Elemento importante para a economia do Litoral Norte foi o porto lacustre localizado às margens da Lagoa do Marcelino, em Conceição do Arroio (hoje, cidade de Osório), que havia se emancipado de Santo Antônio da Patrulha. Entre os distritos de Conceição do Arroio, estava o de Três Forquilhas, resultado de imigrantes alemães que haviam se transferido de São Leopoldo para o Litoral. Foram eles que tomaram a iniciativa de desenvolver a navegação pelos canais e lagoas da região para permitir que a produção das colônias chegasse aos centros comerciais.
Naquela passagem do século 19 para o 20, a navegação começava pela Lagoa Itapeva, onde desemboca o Rio Três Forquilhas, e se estendia até Osório (novos canais foram construídos no começo do século 20, resolvendo o problema de ligação entre os pequenos portos). Ali, estava o porto lacustre, centro nervoso desse sistema. Já era possível então realizar um percurso de Torres a Osório totalmente por via fluvial. Restava a ligação Osório-Palmares do Sul, de onde se iria, novamente por via lacustre, fazer chegar até Porto Alegre a produção litorânea.
A questão foi resolvida com a construção, em 1921, de uma ferrovia que ligava o porto de Osório a Palmares do Sul, com 53 quilômetros de extensão. A ferrovia e os canais da Lagoa do Marcelino e Peixoto foram inaugurados oficialmente em 15 de novembro de 1921. A empresa, com esse complexo sistema de ligação entre lagoas por via fluvial e férrea, denominava-se Serviços de Transporte entre Palmares do Sul a Torres (STPT) e fazia parte do Plano Geral de Viação do Estado, concebido em 1913.
A região atingiu grande desenvolvimento sócio-econômico que atraiu gente até de Santa Catarina e chegou ao ápice na década de 40. Em dezembro de 1960, a empresa foi desativada e o porto desmantelado.
Por Rodrigo Trespach
Publicado em Túnel do Tempo, Zero Hora, 07.07.2011, p.54. Para baixar o PDF, clique aqui. (As fotos fazem parte do acervo do Arquivo Histórico Municipal Antônio Stenzel Filho – AHMASF, em Osório).
Foi com grande e grata surpresa que encontrei esse artigo. Sou catarinense, do sul do estado e atualmente, vivo em Florianópolis. Meu pai contava inúmeras histórias que contemplavam essas “paisagens” gaúchas e catarinenses desde os anos 1920 – negociava com a indústria calçadista do Vale dos Sinos e utilizava o trasporte carreteiro/lacustre/ferroviário, desde Araranguá até São Leopoldo, para onde enviava o couro, matéria prima daquela indústria. Muito interessante; ricos detalhes que demandariam algum tempo para expor. É uma pena que tão importante parte de nossa história (sul-brasileira) esteja esquecida ou adormecida. Muito obrigado por divulgar matéria tão importante ao acervo de nossa Região Sul. Lembremos que nada do que nossos antepassados fizeram foi de graça, sem sacrifícios e penoso trabalho.